A Fazenda da Mata é o reino encantado dos Sousas.
Foi nesse recanto, aberto ao pé da serra da irara pelo velho Tunico Sousa e seus filhos, que a maioria de seus descendentes nasceu.
Tal qual a música "Meu Reino Encantado", posso dizer que eu nasci nesse recanto feliz, distante da povoação e que ali também eu vivi com meu pai, mamãe e os irmãos".
A Fazenda fica em um imenso vale. De um lado a serra da irara e do outro o planalto que demanda para Torixoréu.
Quando a gente chega no alto que vai para a cidade e avista as sedes da fazenda, não tem jeito: o coração bate mais acelerado e voltam à nossa mente as lembranças de nossa infância.
Quantas vezes já desci e subi essas ladeiras! A pé, a cavalo, em carro de bois, em outros veículos. A subida é bastante íngreme. Às vezes dava até calafrios na descida ou na subida, mas as emoções de estar ali sempre superaram tudo.
Eu cresci subindo e descendo essas ladeiras e essas serras. Levei meus filhos e meus netos várias vezes para passear nesse lugar. E nessa viagem, fiz questão de trazer aqui o meu neto Davi. E ele também se encantou como todos nós.
Depois da descida, Davi teve a emoção de acompanhar tia Mariza na abertura da porteira. O vento, que soprava forte em nossa chegada, batia em seu peito, assanhava os cabelos de Mariza... Eles abriram os braços para abraçar a fazenda.
E eis que surgiu à nossa frente a velha casa grande de vovô, onde nasci. Não é uma casa tão grande, mas na minha mente de criança ela sempre foi muito grande.
Eu me lembro das tantas vezes que brinquei nessa casa.
Eu gostava de me esconder dentro da rede para que outras crianças me procurassem.
Vovô Tunico não gostava muito de nos ver nessas brincadeiras.
Uma vez ele nos pegou brincando, quando chegava em casa.
E naquela ocasião, recordo que ele me deu uma pinholada por cima da rede. Assustei. Mas não fora tão forte. Só deu mesmo um susto.
A gente gostava de descer escorregando no corrimão da escada. Parecia ser uma escada tão grande, mas ela é bem pequena. São poucos degraus.
Eu dormia nesses degraus durante o jantar. Eu me sentava ali para comer. Começava a comer e dormia com o prato na mão.
Na cozinha, nos tempos das chuvas, quando "invernava", minava água na cozinha.
Segundo tia Leide, que hoje comanda esse reino, ainda continua minando água, mas ela fez um fosso embaixo do assoalho para drenar a água e encaminhá-la para fora da casa, sem passar pela cozinha.
A casa tem muitas janelas.
O charme era tirar fotografia com uma ou mais pessoas em cada janela.
Temos várias fotos assim.
Nesse passeio, Mariza e Davi também experimentaram essa emoção.
Em um dos lados da casa fica o curral.
Antigamente ele era maior. Havia um tronco bem no meio do curral. Mas é ali que ainda hoje, o tio Osvaldo, esposo de tia Leide passa a maior parte de seu tempo, tirando leite. Ele faz isso duas vezes por dia.
A ordenha agora é mecânica e até os cavalos estão sendo substituídos por motos.
Tio Osvaldo me disse que quase não usa mais o cavalo, só a moto.
Nos meus tempos na fazenda, não havia motos, nem carros de passeio na fazenda.
Bem antigamente, só me lembro de um caminhão que tio Irani possuía.
Parece que havia um leão na porta, se não me engano.
Quando o tia chegava de suas viagens, ele descia a serra buzinando longamente.
Aquilo nos enchia de alegria e nos fazia correr pelas estradas simulando estar dirigindo nosso próprio caminhão.
Tio Irani tinha um bolicho.
A gente ia lá fazer compras. Comprávamos balinhas.
Íamos com uma moeda e voltávamos com o bolço cheio de caramelos.
Ali era o ponto de encontro da vizinhança.
Do outro lado da casa havia o terreirão.
Me lembro de que nós sentávamos ali nas noites para ouvirmos as histórias de tia Zulmira, que nos emocionavam.
Ouvíamos com muita atenção.
Foi muito bom estar na fazenda.