Izaias Resplandes
A máxima do “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” está se tornando realidade na universidade brasileira. Depois de enfrentar uma resistência que não foi tão resistente assim, o Rio de Janeiro saiu na frente, oficializando há poucos dias a tão propalada reserva de vagas nas universidades estaduais daquele Estado, para os alunos provenientes da escola pública. É claro que desse ponto para a generalização em todo o país, inclusive nas universidades federais, será um passo. Vale lembrar que nós do Mato Grosso temos que falar um pouco mais baixo sobre isso, haja vista que na origem oficial desse ba-fa-fá também está o Senador Antero Paes de Barros, um dos candidatos a candidato a Governador de nosso Estado, autor de um Projeto de Lei sobre o assunto, que está tramitando lá pelas bandas do Congresso Nacional. Mas, se pecamos falando, pecamos mais ainda pela omissão silenciosa, pelo que opto por engrossar as fileiras da resistência contra esse oba-oba que se está implantando nas nossas universidades.
Reservar vagas para alguns privilegiados, é abrir as janelas para o ladrão. Quem muito bem dissertou sobre isso foi Jesus Cristo. Segundo ele, “o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador” (João 10:1). Enquanto pai e professor de escola pública, eu questiono e condeno essa educação que se dispõe a iniciar os jovens brasileiros nos caminhos da marginalidade. Fico com a nossa Constituição, pela qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (art. 5º). Se os nossos jovens da escola pública não estão ingressando na faculdade, então é porque existe uma deficiência na base preparatória, a qual precisa ser corrigida. Todavia, não se corrige um erro com outro. Isso seria persistir no erro, o que até a cultura popular já consagrou como burrice. A reserva de vagas fere a nossa Lei Maior e não é uma solução inteligente para o problema da dificuldade que os jovens egressos da escola pública têm para ingressar nas universidades públicas em nosso país. Para solucionar a questão é preciso ir até as suas raízes mais profundas, as quais estão umbilicalmente ligadas à realidade em que vivem tais alunos.
Seguindo a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola deve preparar o jovem para a vida; para o exercício da cidadania. E essa orientação deve ser seguida tanto pelas escolas públicas quanto pelas privadas. Isso pode parecer positivo, mas é exatamente nesse ponto que encontramos uma das principais barreiras para que o jovem da escola pública ingresse na faculdade. Trata-se de como essa questão da preparação para a vida é vista pelas classes popular e remediada, de onde provém a quase totalidade dos jovens de quem estamos falando.
Para as camadas populares, estar preparado para a vida significa ter pelo menos o ensino médio. A Universidade é uma utopia para essa gente que passa fome, que está desempregada, que madruga para pegar uma ficha para o médico do posto de saúde e que, somente abaixo da linha da miséria é constituída por 80 milhões de brasileiros. É com essa gente tão sofrida e humilhada que a escola pública trabalha. Essa é uma das realidades do problema em exame. Esse é o limite, a meta e o objetivo da escola pública: oferecer a educação básica prevista na nossa LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Na outra semi-reta dessa história estão os egressos da escola privada, cuja meta final para a devida preparação ao exercício da cidadania, somente será atingida com a conclusão de um curso superior.
Por mais agressiva que seja, a realidade norte-sul em que vivem os pobres e “remediados” jovens do Brasil é um quadro pintado mais ou menos com essas cores. Se quisermos mudanças nesse panorama, se quisermos diminuir as desigualdades que separam esses dois mundos, devemos tomar medidas que aumentem o poder de competitividade dos jovens da escola pública, dentre as quais sugiro uma mudança nas suas finalidades, estabelecendo como meta principal a preparação do jovem para o ingresso na faculdade. Os alunos que têm saído das escolas públicas não estão conseguindo se empregar, porque quem está disputando as vagas nos serviços mais elementares do mercado são profissionais de nível superior.
Chega de iludirmos a nós e aos nossos alunos com uma pretensa preparação para o trabalho, porque da maneira como a lei nos manda “ensinar”, não estamos preparando nem para uma coisa nem para outra, em nossas escolas públicas. Temos que fazer como eles fazem nas escolas privadas, ou seja, preparar nossos garotos para ingressar na faculdade. Nós sabemos quais os conteúdos e cobranças que comumente caem nos vestibulares, mas não trabalhamos tais conteúdos nem preparamos nossos alunos para responder aos tais questionamentos. Então me digam se queremos para eles, algo mais que essa famigerada educação básica do preparo para o desemprego e que também é conhecida como 2º grau e ensino médio. No bla-bla-blá, podemos até dizer, mas não é isso que nossos atos declaram.
Para encerrar, é bom lembrar que a festa do oba-oba não para por aí. Uma das propostas do Brasil na Conferência da ONU, na África é justamente a reserva de vagas para os negros em nossas universidades. Ontem os humilhados foram os pobres. A proposta de hoje também inclui os negros. E amanhã, para que quase todos sejamos iguais, você também poderá ser incluído nesse oba-oba da reserva universitária. Que possamos viver para ver!
A máxima do “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” está se tornando realidade na universidade brasileira. Depois de enfrentar uma resistência que não foi tão resistente assim, o Rio de Janeiro saiu na frente, oficializando há poucos dias a tão propalada reserva de vagas nas universidades estaduais daquele Estado, para os alunos provenientes da escola pública. É claro que desse ponto para a generalização em todo o país, inclusive nas universidades federais, será um passo. Vale lembrar que nós do Mato Grosso temos que falar um pouco mais baixo sobre isso, haja vista que na origem oficial desse ba-fa-fá também está o Senador Antero Paes de Barros, um dos candidatos a candidato a Governador de nosso Estado, autor de um Projeto de Lei sobre o assunto, que está tramitando lá pelas bandas do Congresso Nacional. Mas, se pecamos falando, pecamos mais ainda pela omissão silenciosa, pelo que opto por engrossar as fileiras da resistência contra esse oba-oba que se está implantando nas nossas universidades.
Reservar vagas para alguns privilegiados, é abrir as janelas para o ladrão. Quem muito bem dissertou sobre isso foi Jesus Cristo. Segundo ele, “o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador” (João 10:1). Enquanto pai e professor de escola pública, eu questiono e condeno essa educação que se dispõe a iniciar os jovens brasileiros nos caminhos da marginalidade. Fico com a nossa Constituição, pela qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (art. 5º). Se os nossos jovens da escola pública não estão ingressando na faculdade, então é porque existe uma deficiência na base preparatória, a qual precisa ser corrigida. Todavia, não se corrige um erro com outro. Isso seria persistir no erro, o que até a cultura popular já consagrou como burrice. A reserva de vagas fere a nossa Lei Maior e não é uma solução inteligente para o problema da dificuldade que os jovens egressos da escola pública têm para ingressar nas universidades públicas em nosso país. Para solucionar a questão é preciso ir até as suas raízes mais profundas, as quais estão umbilicalmente ligadas à realidade em que vivem tais alunos.
Seguindo a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola deve preparar o jovem para a vida; para o exercício da cidadania. E essa orientação deve ser seguida tanto pelas escolas públicas quanto pelas privadas. Isso pode parecer positivo, mas é exatamente nesse ponto que encontramos uma das principais barreiras para que o jovem da escola pública ingresse na faculdade. Trata-se de como essa questão da preparação para a vida é vista pelas classes popular e remediada, de onde provém a quase totalidade dos jovens de quem estamos falando.
Para as camadas populares, estar preparado para a vida significa ter pelo menos o ensino médio. A Universidade é uma utopia para essa gente que passa fome, que está desempregada, que madruga para pegar uma ficha para o médico do posto de saúde e que, somente abaixo da linha da miséria é constituída por 80 milhões de brasileiros. É com essa gente tão sofrida e humilhada que a escola pública trabalha. Essa é uma das realidades do problema em exame. Esse é o limite, a meta e o objetivo da escola pública: oferecer a educação básica prevista na nossa LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Na outra semi-reta dessa história estão os egressos da escola privada, cuja meta final para a devida preparação ao exercício da cidadania, somente será atingida com a conclusão de um curso superior.
Por mais agressiva que seja, a realidade norte-sul em que vivem os pobres e “remediados” jovens do Brasil é um quadro pintado mais ou menos com essas cores. Se quisermos mudanças nesse panorama, se quisermos diminuir as desigualdades que separam esses dois mundos, devemos tomar medidas que aumentem o poder de competitividade dos jovens da escola pública, dentre as quais sugiro uma mudança nas suas finalidades, estabelecendo como meta principal a preparação do jovem para o ingresso na faculdade. Os alunos que têm saído das escolas públicas não estão conseguindo se empregar, porque quem está disputando as vagas nos serviços mais elementares do mercado são profissionais de nível superior.
Chega de iludirmos a nós e aos nossos alunos com uma pretensa preparação para o trabalho, porque da maneira como a lei nos manda “ensinar”, não estamos preparando nem para uma coisa nem para outra, em nossas escolas públicas. Temos que fazer como eles fazem nas escolas privadas, ou seja, preparar nossos garotos para ingressar na faculdade. Nós sabemos quais os conteúdos e cobranças que comumente caem nos vestibulares, mas não trabalhamos tais conteúdos nem preparamos nossos alunos para responder aos tais questionamentos. Então me digam se queremos para eles, algo mais que essa famigerada educação básica do preparo para o desemprego e que também é conhecida como 2º grau e ensino médio. No bla-bla-blá, podemos até dizer, mas não é isso que nossos atos declaram.
Para encerrar, é bom lembrar que a festa do oba-oba não para por aí. Uma das propostas do Brasil na Conferência da ONU, na África é justamente a reserva de vagas para os negros em nossas universidades. Ontem os humilhados foram os pobres. A proposta de hoje também inclui os negros. E amanhã, para que quase todos sejamos iguais, você também poderá ser incluído nesse oba-oba da reserva universitária. Que possamos viver para ver!
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