Izaias Resplandes[i]
O crescimento no conhecimento segue o princípio da progressão parcial. Somente se passa para o estágio seguinte quando o anterior tiver sido incorporado à prática. Começa-se do pouco, do conhecimento de pequenas coisas, de fundamentos. Paulatinamente, na medida em que o aprendido torna-se uma realidade natural na vida da pessoa sem o requerimento de forças extraordinárias, vai-se então aumentando as doses de conhecimento teórico, sempre seguindo o mesmo principio gradativo.
O ponto de partida do crescimento é o nascimento de uma nova postura da parte do aprendiz. Senso comum e ciência não combinam. Achismo não é conhecimento. O velho que “achava” e ficava por isso mesmo e o novo que descobre e “experiência” são incompatíveis. O velho não suporta o novo. Não se põe remendo novo em pano velho, nem vinho novo em odres velhos. O novo destrói o velho. Os dois extremos são inconciliáveis. Um deve desaparecer para dar lugar ao outro. O homem de ontem era ideal para ontem, não para hoje. O agora requer um novo homem incorporado àquele outro. Como dizia Karl Marx: “o concreto é a síntese das múltiplas determinações” (apud PRETI, Oreste. Pesquisa educacional. Cuiabá, MT: IE/UFMT, 1992, p. 65).
A tendência humana de ajeitar as coisas conforme a conveniência não é cabível também nesse caso. Há quem pense que não é necessário estudar, pesquisar, construir uma base de conhecimentos e que na hora agá, sempre se dará um jeito. Não é assim. Não é com fraudes, colas e falsidades que se cresce. Segundo José Saramago, “não há verdadeiro progresso se não houver progresso moral” (apud NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 4.ed. São Paulo: RT, 2004, p. 135).
Existe um projeto universal para o desenvolvimento do homem, o qual é perfeito e não admite adequação, jeitinho, discussão, ou seja, não comporta mudança. É algo tão perfeito como perfeito é o seu autor, o Criador do universo. O debate em torno do mesmo deve-se dar no sentido de conhecê-lo para cumpri-lo, não para discutir os seus termos. A insistente tentativa de mudanças poderá acarretar o surgimento de aberrações, de desequilíbrios e o próprio fim da humanidade. Os grandes progressos apresentados pelos mais notáveis cientistas de todos os tempos consistiram apenas em descobrir as estruturas presentes na criação universal e reproduzi-las com sabedoria. Eles não inventaram nada. Descobriram o que já estava inventado. Esse é o fundamento da Lei de Lavoisier, segundo a qual, “nada se cria, tudo se transforma”.
Quanto à passagem para o estágio seguinte, é de destacar que a mesma não é diretamente proporcional ao tempo de escola de cada um. Estudantes de longa data ainda podem estar na fase inicial, enquanto outros, com pouco tempo de estudos, podem apresentar notável crescimento. Igualmente, não é a idade que habilita a pessoa para prosseguir, mas apenas a incorporação à prática daquilo que foi teoricamente apreendido. O prof. João Álvaro Ruiz, em seu livro “Metodologia Científica”, publicado pela Editora Atlas, SP, já dizia que aprender não é simplesmente decodificar ou ler, mas “saber reproduzir com inteligência”.
A teoria e a prática devem estar sempre associadas. O crescimento não se dá apenas em uma dessas vertentes, mas somente no consórcio de ambas. A teoria sem prática é como a fé sem obras; é morta. Os livros contêm as conjecturas, os pensamentos e as teorias dos mais renomados cérebros, cujo conhecimento pode habilitar o homem para a prática de muitas coisas boas para a sua vida. Para isso eles foram escritos. Todavia, seu aprendizado somente se consolida na prática. Quem diz que sabe, mas não pratica é porque na verdade não sabe nada. Não passa de um estúpido enfatuado, de um fanfarrão. Se soubermos, com certeza praticaremos. Ou deixaremos de praticar, aplicando o sentido negativo, haja vista que nem todas as ações descritas nos livros devem ser praticadas. Algumas são mencionadas justamente para que sejam evitadas, para que nos sirvam de exemplos negativos.
Essa é a chave do crescimento. Ela foi seguida por todos aqueles que viram nas teorias mais do que simples elucubrações e acreditaram que eram possibilidades de transformação e de melhoria da qualidade de suas vidas, ou seja, por aqueles que amaram mais ao conhecimento verdadeiro do que a si mesmos e aos seus achismos e vaidades pessoais. Para que serve um conhecimento que não ajuda a pessoa a melhorar de vida?
Aquele que busca conhecer apenas para conhecer, mas não para praticar o conhecido, será como um cego: não será capaz de ver na plenitude, mesmo que seja um mestre, mesmo que seja muito capaz. Pode até tatear no rumo da luz, mas não verá. Destarte, não haverá crescimento se não houver uma transformação nas idéias que fundamentam a aprendizagem. Somente a partir do momento em que se tiver aprendido a aprender é que se estará apto a prosseguir para o estágio seguinte. Não é por acaso que este é um dos quatro pilares da educação (DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: UNESCO/MEC/Cortez, 1999).
Enfim, o crescimento no conhecimento não é teórico, é prático. Não se aprende na escola ou na academia, mas no campo e na vivência experimental das teorias. O conhecimento teórico somente terá sentido para o seu estudioso quando se concretizar em sua vida. Esse é o caminho da sabedoria que está ao alcance de todos os que desejam realmente encontrá-la.
[i] Izaias Resplandes de Sousa é pedagogo. Acadêmico de Direito da UNICEN de Primavera do Leste, MT.
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