IZAIAS RESPLANDES DE SOUSA
Ando preocupado com minhas lembranças de meu pai. Ainda que eu procure me lembrar de momentos de carinho, de colo, de cafuné... Eu quase não consigo me lembrar desses momentos. O que eu mais recordo são as surras e os conselhos que vinham depois. Lembro-me de várias sessões dessa natureza.
Lourdes, minha esposa, me disse que
isso é pelo fato de que os sermões e as surras valeram a pena, porque me
conservei uma pessoa de bem. Assim, os sermões e as surras foram gestos de
amor, para me manter uma pessoa direita e de bem.
Agora à noite me recordei de um dia que o meu
pai me carregou nos braços. Eu estava doente. Muito atacado de reumatismo.
Naquele dia eu amanhecera com as pernas muito inchadas e fui parar no Hospital.
Lembro-me que fui numa ambulância da Polícia Militar de Goiás, que o Tio
Divino, da Dona Castorina arrumou para me levar até o Hospital do Rassi, ali
perto do Lago das Rosas, em Goiânia, Goiás. O INPS funcionava lá.
Naquele dia eu fui atendido no
Pronto Socorro do Rassi e encaminhado para a Policlínica de Goiânia que ficava
na Av. Tocantins, no centro da cidade. Então o meu pai me pegou nos braços e me
carregou até o ponto de ônibus. Entramos no ônibus. Não lembro se alguém
ofereceu um lugar para nós. Devem ter oferecido, mas não me lembro.
Na Policlínica tinha muita gente
para ser atendida. Se não me engano, o meu médico se chamava Dr. Udirse. Será
que ele ainda é vivo? Pesquisei na internet. Meu Deus! Encontrei um Dr. Udirse
Rodrigues Do Nascimento, Reumatologista - CRM 711, Goiânia - GO. Deve ser ele
mesmo. Fiquei com vontade de reencontrá-lo, ainda que não me lembre de suas
feições. Mas ele fez um bom tratamento em mim e, durante muitos anos, eu não
tive mais problemas com reumatismo. Acho que pagaria uma consulta só para
conversar um pouco com ele. Faz tanto tempo!
Lá na Policlínica nós nos sentamos
em um banco de cimento que ficava na beira de uma parede, se não me engano.
Estava lá a Dona Dayse, Diretora do Colégio Estadual Dom Abel, onde eu
estudava. Meu pai estava comigo no colo e ela perguntou-lhe porque ele estava
comigo no colo. E meu pai explicou. Mas ela duvidou que eu estivesse tão mal,
mesmo.
Dona Dayse pediu ao meu pai que me
deixasse no meio da sala de espera e então ele veria que eu conseguiria andar e
voltar ao banco para me sentar. Não sei por que, mas meu pai fez o que ela
mandou. Acho que ele não queria discutir com a Diretora, que era uma autoridade
diante da simplicidade de meu pai, recém-chegado de Torixoréu, MT, onde
vivíamos em um pequeno sítio. Então ele me deixou no meio da sala. E aí a
professora me chamou para me sentar. Lembro-me que somente dei uma olhada para
ela e desmaiei. Quando acordei estava no consultório do Dr. Udirse, em uma
maca.
Dr. Udirse decidiu que eu deveria
ser internado. Fui encaminhado para o Hospital São Jorge, que ficava próximo da
antiga Rodoviária e do Lago das Rosas. E novamente meu pai me pegou nos braços
e saiu do consultório me carregando. Dona Dayse ainda estava na sala de espera.
E ao nos ver ela se aproximou de meu pai e conversou com ele. Ela deu o
dinheiro do táxi para que o meu pai me levasse para o Hospital São Jorge. E
assim nós fomos para lá.
Era o ano de 1972 e eu estava com 14
anos de idade. Hoje estou com 59 anos. Já se passaram 45 anos.
Essa foi uma boa lembrança que tive
de meu pai, de um dia em que ele me carregou nos braços e me pôs no colo. Ainda
que as boas lembranças pareçam tão poucas, vou torná-las grandes, sempre me
relembrando delas. E assim, não te esquecerei, meu pai! Não te esquecerei!
Saudades!
Poxoréu, MT, 13 de agosto de 2017.
Izaias Resplandes de Sousa
Um comentário:
Meus parabens!
Muito linda! Uma mensagem, de verdade e amor, escrita com palavras simples, e mostrando por onde passou para chegar onde está.
Para um pai que nasceu e foi criado, nas décadas, que nasceu o seu, o meu, não podiamos esperar que fizesse, o melhor em criar filhos, é só fazer uma viagem, de volta a nossa infância, recordar quantos irmãos tinha em cada casa.
Vamos prolongar um pouco essa restrospectíva, e chegar, com a nossa imaginação a infância do seu pai e do meu, vamos imaginar, quando nosso avô, e avó, se casaram, onde foram morar, no primeiro ano, quando casaram, qual era a suas condições finenceiras?
Que tipo de casa foi a primeira?
Qual o conhecimento, poderiam ter em criar filhos?
Mesmo assim, seu pai criou não só você mas um grupo respeitável! De meninos e meninas.
Vamos voltar para o século 21, e tentar entender, e compreender, com o conhecimento, que graças ao desenvolvimento humano atual, nossa força de vontade em buscar o saber, conseguimos ao longo da vida com os tombos, e arrancos que a vida nus impôs, conseguimos aprender a perdoar os erros de quem com muito amor, muito trabalho, e determinação, conseguio trazer a sociedade este grupo, de irmãos, com vida saúde, e que dar prazer em está na cia, de todos,
O meu ponto é que eu estou certo, e tenho reconhecimento que eu não cosegia ter feito melhor.
Te agradesso pela confiança e me mostrar o que é uma boa leitura, de uma grande e linda história.
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