O mundo físico foi criado para atender ao homem em suas necessidades de habitação e alimentação. A narrativa bíblica diz em Gn 1:29-30 que toda erva que dê semente, toda árvore que dá fruto que dê semente, que todo animal, toda ave e todo réptil da terra foi uma dádiva de Deus para a alimentação do homem.
É de ver que na terra se incluem também as águas. Assim, tanto os vegetais quanto os animais da terra, das águas e do ar foram destinados para a alimentação do homem. Tal dádiva, no entanto, estava condicionada à conquista e ao domínio. Tudo seria do homem como um direito de conquista. O vencedor faz jus ao despojo.
Como se sabe, a terra está inserida no reino dos céus, no espaço sideral, na grande expansão. A terra não é o planeta Terra, mas sim, tudo o que não é firmamento. Os céus constituem o grande vazio. A terra é o conjunto das formas que ocupam os vazios celestiais.
Sujeitar e dominar a terra (Gn 1:28) é conquistar os céus. Isso não é tarefa para um dia, um século, um milênio. A conquista do reino dos céus é a tarefa da vida. Uma geração passa e outra vem. A luta da vida continua geração após geração, conforme as necessidades do momento.
No início do mundo, apenas o cultivo do Jardim do Éden era suficiente para a subsistência humana. Com o tempo, os campos deveriam ser ampliados naturalmente. A ordem divina não era para que o homem sujeitasse e dominasse apenas o jardim edênico. Ali era o começo de sua jornada, a qual, no decurso dos anos, haveria de se estender até os confins do universo, que ainda hoje parece não ter fim, indicando os limites temporais dessa batalha.
No princípio da criação, a vida do homem era mais fácil. Havia muita fartura e abundância. Isso não significava que essa “lavoura natural” não carecesse de cuidados. O Criador orientou ao homem sobre as necessidades da terra e das plantações (Gn 2:15). Posteriormente, a vida ficou mais difícil e o homem teve que trabalhar melhor a terra para retirar dela o seu sustento. E ao longo dos anos, tem sido necessário derramar cada vez mais suor no rosto para conseguir o alimento de cada dia, conforme os desígnios do Criador (Gn 3:17-19).
O reino dos céus está pronto para a conquista. Esta é uma luta renhida, cuja vitória requer muito esforço e dedicação (Mt 11:12; Lc 13:24). Nem todos conseguirão sobreviver. Muitos morrerão pelo caminho. Poucos dirão como Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4:7).
A alimentação é uma questão fundamental para a sobrevivência. Os homens se matam por comida, embora também se matem por outras coisas de somenos importância. O homem é um ser mau por natureza. Segundo o filósofo Thomas Hobbes, em sua obra “O Leviatã”, ele é “o lobo do homem”. Devora-se e se destrói mutuamente, travando “uma guerra de todos contra todos”. Muito antes dele, porém, o próprio Deus decidira dar cabo de toda a criação, porque constatara que “a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6:5). E por causa disso veio a destruição do mundo antigo pelas águas do dilúvio (2 Pe 3:5-6).
Jesus também afrmou que os homens são maus (Mt 7:11).
Por conta da maldade de cada um, que não pensa no bem do outro, a luta pela sobrevivência não é fácil. Muitos têm morrido nessa peleja, outros vivem em estado miserável, enquanto uma elite minoritária se esbalda em banquetes e prazeres.