O município de Poxoréu é um celeiro natural de talentos, tendo seus expoentes consagrados em praticamente todas as áreas da atividade humana: literatura, pintura, escultura, música, política, etc.. A UPE – União Poxorense de Escritores é uma tentativa de congregar aqueles que se dedicam especialmente à literatura, os chamados upeninos. Todavia, tem ainda como proposta atuar "em defesa da arte e da cultura". Nesse sentido, através de suas publicações, como o jornal “O UPENINO", têm procurado acompanhar e registrar os principais acontecimentos ligados a esta temática. Cumprindo esse propósito, conversamos através de e-mail com o cantor e compositor AURÉLIO MIRANDA, o qual está lançando o seu novo CD CANTA POXORÉU e que nos concedeu a seguinte entrevista.
O UPENINO: Você poderia nos dar alguns de seus dados biográficos, como: Onde nasceu, data de seu nascimento, quem são seus pais, seus irmãos, quando e com quem casou, quem são seus filhos, onde você viveu, onde vive e qual é, em sua opinião, a sua produção mais importante.
AURÉLIO: Nasci em Mato Grosso para as bandas de Cuiabá num povoado chamado Mutum, num sítio.
Nasci no dia 05/05/50 mas, como artista tenho o meu direito particular de dar a idade que aparento. Minha mãe grande guerreira da lida, que entendo muito bem o porquê de deixar-me afastar da sua companhia com 13 ou 14 anos de idade, para que eu pudesse com garra e luta realizar o meu sonho de cantar e tocar.
Meu pai que tive a felicidade de conhecê-lo em 1990 aos meus 40 anos.
Não posso julgá-lo irresponsável e nem tenho esse direito. Quanto a seu nome é Claro Bispo, primo de mãe; tenho uma única irmã: Irenil Miranda Rodrigues; tenho outros, que são filhos de criação de minha mãe, mas que considero irmãos, o Idenil Miranda da Costa, e o Carlos César (in memóriam).
Casei-me em Campo Grande com a professora e assistente social, Marina Ferreira Souza de Miranda há 27 anos, tivemos dois filhos: Aurelinho hoje com 22 anos, jornalista, pós graduado, hoje trabalhando na Rede de TV Canal do Boi e Laura Miranda, 24 anos, pós graduada em jornalismo, atualmente fazendo mestrado; é assessora de imprensa do Deputado Marquinhos Trad na Assembléia Legislativa de Campo Grande e, jornalista responsável pelo Jornal Fonte Aérea distribuído no Aeroporto Internacional de Campo Grande.
Ambos cantam profissionalmente e trabalham em suas especialidades.
Tenho em Cuiabá dois filhos de quando solteiro, o Klainner e a Cristiane, nome dado em homenagem à minha avó materna, Cristiana.
Moro há 35 anos em Campo Grande - MS, com várias etapas em viagens artísticas.
Quanto à produção considero todas importantes e agora até sugiro entrar em minha comunidade amigos de AURÉLIO Miranda, que focaliza todo o meu currículo.
O UPENINO:
Quando foi que você descobriu que tinha um talento especial para a música e qual foi a sua primeira produção musical?
AURÉLIO: Cara... Foi em Poxoréu com meus 8 anos de idade, quando eu ia para o Diamante Clube ouvir o conjunto de nossa cidade tocar. Seus componentes: Newtom, Banana, Gerônimo, Joaquinzinho e outros; eram todos feras e que só iam dormir quando acabava a festa; nesta mesma idade tocava bombo com o carpinteiro, o trombonista era Seu Gerônimo.
A primeira produção foi um disco, (mas só 1 mesmo), quando tocava dava choque, gravamos uma música de nossa autoria em parceria com o poeta Carolino Leóbas.
Terra natal eu nem comento... Aos meus 13 anos como dupla sertaneja, com meu compadre Renato, ficamos famosos em Cuiabá, na Rádio A Voz do Oeste, na época de ouro do saudoso Alves de Oliveira, grande amigo da dupla Cigano e Ciganinho. Tivemos quando garotos o apoio incondicional do Nonoca, do Tarquínio, ambos locutores do Serviço de Alto Falante, pessoas conhecidas e respeitadas em Poxoréu, também o finado Cheiro, que nos levava para cantar na zona e no Alto Coité, o cachê era passear de carro e beber refrigerantes.
Fiz 1º, 2º, 3º e um pedaço do 4º... Acho que foi isso, não tenho certeza; quando toquei em Alto Garças, fiz admissão e fui o primeiro lugar no colégio Dr. Ítrio Correia; no decorrer da minha vida fiz curso supletivo do 1º e 2º graus, pretendo fazer ainda a faculdade de música em Campo Grande com incentivo total da minha esposa e dos meus filhos; desculpe pelas lágrimas, eu me emociono fácil! Estou agora ouvindo Minha Doce Poxoréu cantada por meus filhos... Cara, foi muita luta, muito sofrimento, muitas humilhações, sozinho é barra... Aliás, sempre com nosso Senhor Jesus ao meu lado, com certeza. Se não tivesse minha esposa Marina e meus filhos, estaria sem dúvida na rua da amargura. Família para mim é a base, mas tudo do ser humano com uma palavra de carinho vale mais do que bens materiais.
O UPENINO: Quantos discos ou CDs você gravou ao longo de sua vida e, se possível, quando foi gravado cada um e quem o apoiou nessa iniciativa?
AURÉLIO: Em 1978, na Califórnia SP, com a dupla Cruzeiro e Tostão com apoio da dupla Délio e Delinha; em 1979, na gravadora Chantecler, a maior do Brasil na época, só feras, Roberta Miranda, Milionário... e outros famosos; depois fiz gravações independentes em 1985, 1997, 2000; em 2003 fiz um projeto junto ao governo chamado: Poetas e Cantadores; idealizei e executei um projeto junto à Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, com muitos shows, intitulado: Caravana Popular.
O UPENINO: Qual foi o grande sucesso de sua carreira? E qual a música que não pode deixar de ser cantada em todos os shows que você realiza?
AURÉLIO: A música Estrada de Chão da minha autoria.
O UPENINO: Ao longo de sua carreira, como tem sido o seu relacionamento com os seus conterrâneos de Poxoréu? De que maneira os poxorenses têm apoiado o seu trabalho?
AURÉLIO: Cara, agora você falou do lado que eu escuto!!! Sou muito amado aí e amo de coração o povo da minha terra; mesmo eu tendo chegado com 5 anos, fui adotado pelos garimpeiros, pelas donas de casa, pelos amigos e amigas da cidade e do campo. Em família, às vezes existem atritos, mas são rápidos, nada que o tempo não os coloque em seus devidos lugares.
Sempre tive apoio também dos políticos da minha terra; nunca me disseram não. Inclusive, o CD exclusivo para Poxoréu, tem o apoio cultural da Prefeitura Municipal e da Câmara Municipal, sem consultá-los, devido ao tempo para o encontro de violeiros, mas na certeza de que tanto o Tonho do Menino Velho quanto a Câmara de Vereadores irão me ajudar porque não é fácil gravar cd de qualidade sozinho.
O UPENINO: Já tivemos oportunidade de assistir apresentações de seus filhos aqui em Poxoréu. Fale um pouco sobre eles e sobre suas expectativas em relação ao futuro deles como cantores.
AURÉLIO: Meu amigo, falar dos filhos sem dúvida eu sou suspeito....
Mas..., vamos lá. Mostraram talento para música muito cedo, assim eu e a Marina sempre trabalhamos no sentido de que jamais trocassem a instrução escolar pela arte musical, devido às dificuldades que todo artista brasileiro enfrenta para ser alguém. Então cresceram estudando muito, porém sempre cantando, viajando muito, dividindo o tempo entre a escola ou a faculdade com os shows nos fins de semana, em lugar de descansar ou ir para baladas; sempre estavam na estrada.
Hoje, já formados em jornalismo os dois (unidos até na profissão) exercem-nas com sucesso; com isso, afastaram naturalmente um pouco da música, mas em casa a cantoria é diária; com a casa cheia de amigos e artistas, sempre tem alguém para almoçar e dividir conosco momentos de alegria e partilha.
Caso eles decidam voltar com tudo para a música, daremos maior apoio.
O UPENINO: Em relação aos novos talentos poxorenses para a música, que palavras você diria a eles? A carreira de artista vale a pena a ser seguida, tem recompensas? Se fosse possível recomeçar, você seguiria essa mesma estrada ou teria outra opção?
AURÉLIO: Não parem de forma nenhuma, sejam persistentes. Quanto a mim, não fui nome nacional por falta de aprender, que pra ser artista a responsabilidade está acima do talento.
Quem está começando (pelo amor de DEUS!!!), estude, ponha junto da mente um curso superior, não se envolva com drogas, álcool e gandaias, porque assim jamais irão conhecer o sucesso. O maior veículo de comunicação de todos os tempos é a música, mas essa viagem requer renúncias aos prazeres da carne; tem que trabalhar muito e ser criativo, não brincar de cantar e tocar; é preciso ser profissional.
Sem duvida, teria outra opção. Não deixaria Poxoréu sem pelo menos ter o segundo grau, para depois encarar o mundo, pois a barra é pesada para o analfabeto. Imagine eu, se não soubesse cantar e tocar. Estaria ferrado!
Aqui não poderia deixar passar em branco os valores artísticos dos meus conterrâneos. Portanto, gostaria de discorrer aqui um pequeno comentário sobre os poetas e o que me chamou atenção em suas obras:
As poesias, em sua maioria com estilos contemporâneos. Lendo, dava-me a impressão de paginar os clássicos dos grandes: Castro Alves, J.G de Araújo Jorge até mesmo, Machado de Assis e tantos outros ..
Joaquim Moreira, que madeira de dar em doido, dê um abraço a ele e diga-lhe que viajei no meio das pedras... Resplandes, grande rei da poesia, um grande pensador e representante espiritual do bem e da verdade, reencarnação de um dos apóstolos de Jesus Cristo; tantos outros que li e aos quais louvo a versatilidade em fazer poesias; e meu orgulho maior, todos de Poxoréu.
Quanto aos cantores, compositores, duplas e trios... Existe um casting repleto de diamantes musicais.
São do meu tempo: Amorésio, Neto, família Bento de Brito, compadre Renato, grande talento da música sertaneja, uma raridade musical; meu amigo Julio Coutinho o campeão em harmonia; outro excelente amigo e músico de primeira qualidade a quem todos devemos apoiar é o Gigio (Ednon Pereira), filho do compadre Evilásio; alem de muitos outros que agora me fogem à memória.
O UPENINO: Agora nos fale sobre o seu novo CD e sobre suas expectativas em relação a ele.
AURÉLIO: Está pronto o CD Canta Poxoréu. Fizemos porque era enorme a cobrança do povo pelas músicas da terra, de modo que, com esse trabalho atendo a todos os que querem ter a canção da nossa terra em casa. Levarei comigo dia 11 quinhentos exemplares para quem quiser adquirir, com preço simbólico, contendo as músicas que eu fiz em homenagem à minha terra e mais algumas composições minhas que têm despontado pelo Brasil afora. Em seguida farei um para atingir o grande público ou um CD estilo regional, estamos em estudo.
O UPENINO: Quais são suas palavras finais para os leitores do jornal "O UPENINO" e aos membros da UPE em particular?
AURÉLIO: Em primeiro lugar a minha gratidão eterna, e todo meu respeito ao grupo de profissionais que dirigem o jornal O UPENINO, que sabem bem mais do que eu o quanto é difícil fazer arte neste país. Parabéns pelo trabalho de vocês aí do jornal, pois é através da instrução e da cultura que se chega à educação integral e ao desenvolvimento de um povo.
Quero em especial me curvar à bondade e ao carinho do povo de nossa terra, em valorizar minhas canções e ter por mim um carinho muito especial.
Ao casal de Poxoréu que abriu na internet a comunidade amigos de AURÉLIO Miranda, querem saber o nome deles? Acessem:
aureliomirandaviola@hotmail.comO meu perdão de coração para algumas pessoas se porventura eu as ofendi.
Quanto às recaídas na cerveja é normal, porque em Poxoréu não tem jeito não, sócio. Até dia 12.